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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Treinamento para quem?




Um dos melhores momentos na atuação como consultor na área de prevenção de acidentes é quando nos deparamos com aquele cliente que vai logo dizendo que deseja se livrar dos problemas da Segurança do Trabalho.
Agora, depois que a vida nos ensinou uma porção de coisas, que o dia a dia nos fez mais macios e compreensivos, acabamos entendendo que não estamos diante de uma pessoa má - como pensávamos tão simploriamente quando éramos mais jovens -, mas apenas diante de uma pessoa que certamente ainda não teve tempo para refletir sobre o verdadeiro significado da prevenção. Na verdade, esta pessoa, na sua ótica, tem lá suas razões. São anos e mais anos pagando caro por porções de papeis, dias e mais dias cumprindo normas que não entende. É cego para o assunto e reage como quem está apenas cumprindo uma obrigação e não se interessa pelo assunto.
Muitas vezes, o que impede que isso mude é a nossa crueldade de especialistas.
Começa pela nossa imaginação de que todas as pessoas sabem todas as coisas.
Depois passa pela ideia de que todo empresário ou chefe é mau e deseja explorar os trabalhadores - as pessoas podem até ir um pouco além, mas com certeza não desejam conscientemente adoecer, ferir ou matar pessoas. É interessante como repetimos o velho bordão da educação para a prevenção, mas equivocadamente achamos que isso se aplica apenas aos trabalhadores.
Creio que apenas na nossa imaginação todos aqueles que têm seu próprio negócio ou mesmo aqueles que são chefes, receberam informações e treinamentos quanto à prevenção - só mesmo na nossa imaginação, pois na realidade é provável que exista mais informação sobre prevenção de acidentes no chão de fábrica do que nos escritórios e salas da direção.
A prevenção chega às pessoas como coisa de política, como problema de sindicato e como lei a ser cumprida. Muitas e muitas vezes na minha vida e carreira
vi donos de empresa e chefes chorando e desolados diante de um acidente, porque só naquele momento entenderam o que estava ocorrendo. Uma pergunta que ajuda muito a melhorar as coisas é: quem é aquela pessoa que está ali como chefe?
Distante do papel ao qual a pessoa se propõe, e mais distante ainda da imagem que definimos para ela, certamente vamos encontrar respostas e questões interessantes - entre elas que "chefes não são deuses". Tudo bem que boa parte dos chefes age de forma a nos levar a pensar que eles sabem tudo. Mas creiam que se, de fato, soubessem não seriam grosseiros como alguns são e menos ainda deixariam de lado a Saúde e a Segurança daqueles que são os que mantêm sua posição e status.
Chefe, na concepção da palavra, tem noção do que significa um acidente na sua linha de produção. Chefe moderno sabe o quanto as faltas e os afastamentos impactam na gestão dos negócios e tem consciência do quanto um ambiente seguro e saudável contribui para que o produto seja melhor. Então o que ocorre, na verdade, é que ele de fato não sabe e, como acha que fica feio assumir isso, se indispõe com a segurança, dá murro na mesa, ironiza a prevenção - tudo isso apenas para encobrir seu desconhecimento sobre o assunto. Parece grave, mas tem cura.
CURA
E a cura dele começa na nossa cura - quando deixamos de lado a "suposicionite aguda" que nos leva a crer que:
- Ele é chefe = sabe tudo.
- Ele ganha bem = sabe tudo.
- Ele estudou = sabe tudo.
Achar que educamos os trabalhadores é fácil. Enchemos salas com pessoas, mostramos a eles pessoas sem dedo, sem olho - se tiver imagem de criança com cara de órfão melhor ainda. Então, eles passam a ter medo e por algum tempo farão o que desejamos.
Mas nada disso podemos fazer com os chefes, e aí? A grande reflexão disso tudo é que não temos sido bem-sucedidos em mudança de comportamento e o que vemos por aí hoje, sendo tratado como o que há de mais moderno, não passam de programas de inspeção bem enfeitados onde trabalhamos a partir do erro já encontrado. O que há de novo nisso?
Vivo me perguntando onde estão as empresas com programas de treinamento e conscientização para a prevenção. Quais destas organizações dedicam tempos e recursos a verificar conhecimento de prevenção já nos processos de admissão e rejeitam já ali candidatos inaptos ou desconhecedores do assunto ou, então, providenciam para que eles tenham treinamento suficiente para que só assim assumam seu posto de trabalho? Os mais afoitos dirão: "Fazemos integração".
E desde quando integração serve para isso?
O que vemos por aí nos assusta. Basta analisar a carga horária dos treinamentos destinados à qualidade, por exemplo. Não precisa ser muito esperto para notar que para a prevenção cumpre-se tabela e nada mais do que isso. Vá um pouco mais adiante e verifique os treinamentos para a prevenção planejados para a chefia e compare com o planejamento para os demais trabalhadores. E é interessante como isso faz com que boa parte das organizações gaste muito dinheiro sem qualquer retorno porque, via de regra, todos os treinamentos são feitos apenas para os comandados que quase sempre dizem assim: "meu chefe precisava participar de alguma coisa assim". Gasta-se para treinar o trabalhador, criam-se expectativas, mas logo nota-se que nada acontece, porque as chefias seguirão sem mudanças.
Existe o paradigma de que chefe não precisa ser treinado ou, pior ainda, que ele não tem tempo para estar em uma sala de aula. Pena que seja assim, pois um só acidente causado pela ação ou omissão deste mesmo chefe vai consumir muito mais tempo do que um treinamento e, com certeza, muito mais dinheiro. Lembremos que pessoas são pessoas, vistam elas ternos ou macacões, trabalhem na frente de um computador ou tendo nas mãos uma vassoura.


Fonte: rh.com

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