Se entre as resoluções de
início de ano você prometeu ler um livro fora da lista dos mais-mais, desses
que fazem a diferença para a carreira, mas ainda não cumpriu a promessa, ainda
dá tempo: proponho Lições de um empresário radical, do autor Ray Anderson. É
uma aula de sustentabilidade na prática. Um banho de evidências que vão
desconcertar os céticos que ainda acham - sim, eles existem nas diferentes
camadas de uma empresa - que este conceito é bandeira de abraçadores de árvores
e se contrapõe à lógica da gestão de negócios lucrativos.
Até a primeira metade da
década de 1990, a InterfaceFlor era uma desconhecida fabricante de carpetes
que, nas palavras de Anderson, o seu presidente, guiava-se, sem culpas, pela
doutrina do business as usual. Nela, muita produção de fumaça nas chaminés e
volumosas montanhas de lixo despejadas em aterros sanitários representavam a
prova material de que o negócio prosperava. Significavam mais empregos, mais
pedidos entrando, produtos saindo e dinheiro no banco.
Em 1994, fez-se a luz.
Impactado pela leitura de A ecologia do comércio, de Paul Hawken, Anderson teve
o insight de que, a partir daquele momento, “não tiraria da terra o que a terra
não pudesse repor”. Como resultado imediato do desafio auto-estabelecido, pariu
um projeto chamado Missão Zero, cuja ambição é eliminar os impactos ambientais
da companhia até 2020. À época, vale dizer, Anderson foi considerado
excêntrico, um doidivanas disposto a rasgar dólares em nome da preservação da
mãe natureza – tratamento, aliás, normalmente aplicado aos visionários.
Os números confirmam o
acerto da estratégia de Ray Anderson. Em 15 anos de iniciativa, a InterfaceFlor
reduziu as emissões de gases de efeitos estufa em 94%, o consumo de combustível
fóssil em 60%, o desperdício em 80% e a utilização de água em 80%. Ah, céticos
de plantão, fez tudo isso aumentando as vendas em 66%, duplicando os resultados
financeiros e elevando as margens de lucro.
Conheci Anderson em 2008,
durante um evento realizado no Brasil. E ouvi de sua boca algumas de suas
interessantes teses e também uma parte das histórias contadas neste livro.
Relatou-me com entusiasmo juvenil a sua metáfora da “escalada da montanha da
sustentabilidade”, detendo-se em cada um dos sete estágios, para fazê-la da
base ao topo, muito bem detalhados em Lições de um empresário radical. Foi
especialmente enfático ao argumentar sobre como motivou os funcionários a
incorporar os princípios de sustentabilidade no cotidiano de suas atividades.
“Fico feliz de ver que hoje até os colocadores de carpete sentem orgulho em
dizer aos clientes que sua missão é preservar a natureza”, afirmou-me.
Anderson morreu em 2011.
Este livro, que deveria ser leitura obrigatória em qualquer escola de negócios,
é o legado mais importante dele: um líder contemporâneo que provou que sucesso
empresarial só acontece com respeito ao meio ambiente e às sociedades.
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