Com o nome sujo, o
ex-mecânico obteve o microcrédito no Banco do Povo sem precisar fornecer
garantias, avalista ou fiador. Não conseguiria o mesmo nos bancos tradicionais.
Foi com o empréstimo que gerou capital para sair do atoleiro. “A clientela
aumentou, os ganhos se tornaram reais e vi até a possibilidade de expandir o
quadro de funcionários”, conta.
Hoje na formalidade e fazendo
faculdade, João coleciona sete microcréditos obtidos com um “grupo solidário”
formado por seis microempreendedores do bairro, no qual todos se comprometem a
assumir as dívidas de quem ficar inadimplente. O risco do crédito, neste
sistema, é dos próprios tomadores. “Foi pelo grupo que alavanquei meu negócio,
pegando crédito mais elevado”, relata João.
Se o histórico do tomador
for bom, a concessão do crédito aumenta gradativamente a cada seis meses. Com
as contas em dia, João usou o microcrédito para investir na informatização do
estoque. “Consegui diminuir os gastos e revertê-los em melhorias e um local
próprio para estocar os produtos”. Agora ele planeja expandir o comércio com um
serviço de entrega de encomendas em municípios vizinhos.
Empreendedores informais e
autônomos de regiões periféricas encontram no microcrédito uma saída para abrir
microempresas, reformar instalações e comprar matéria-prima ou maquinário. O
crédito para a baixa renda investir garante o capital de giro de artesãos,
revendedores, cabeleireiros, tapeceiros, marceneiros e comerciantes que pagam
juros mensais de até 4% – limite estabelecido para a linha de crédito.
De Bangladesh para o mundo
Popular nos países em
desenvolvimento, o microcrédito teve início em 1976, em Bangladesh, com o banco
Grameen, criado pelo professor bengalês Muhammad Yunus. Começou a emprestar
para pequenos produtores rurais adquirirem animais e bens de produção e, hoje,
já concedeu US$ 5,72 bilhões para 6,61 milhões de mutuários – 97% do sexo
feminino.
No Brasil, com 10 milhões de
microempresários, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), o microcrédito para a baixa renda empreender deu um salto com as
próprias pernas em volume financiado em 2013. Foram concedidos R$ 5,4 bilhões
entre janeiro e agosto deste ano, volume 46% maior que no mesmo período de
2012, de acordo com o Banco Central.
A procura dos negativados ou
informais por entidades mais maleáveis que os grandes bancos contribuiu para a
ampliação do microcrédito no País, acredita o presidente da Abcred (Associação
Brasileira de Entidades Operadores de Microcrédito e Microfinanças), Almir
Pereira. “Nosso papel é atuar junto aos microempreendedores informais que não
conseguem atendimento nos bancos”.
Com 39,5% da população a
partir de 18 anos sem acesso a contas bancárias – segundo o Data Popular –,
OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) voltadas ao
microcrédito, como o Banco do Povo, ganharam espaço entre os excluídos. A
carteira da Abcred, que reúne 38 entidades de microfinanças e 170 mil clientes
microempreendedores, deve encerrar 2013 com R$ 500 milhões emprestados, aumento
de 26% ante 2012, segundo Pereira.
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