Imagine um pesquisador que
tem ideias inovadoras em uma realidade que está vários passos aquém de sua
linha de pensamento. Nesse caso, é provável que seja difícil para este
pesquisador se fazer ouvir, receber crédito e conseguir avançar nas análises
sobre sua teoria. Ele ainda corre o risco de ser silenciado e até
ridicularizado pela sociedade que dificilmente compreenderia suas propostas. E
se, na realidade, esse pesquisador fosse uma mulher e sua época fosse dominada
por homens? Pois é, o tempo foi uma das barreiras para a difusão das
ideias da estudiosa Mary Parker Follet, que já no início da década de 1920
forneceu as mais valiosas contribuições à Administração.
Considerada por Peter
Drucker a "profeta do gerenciamento", Follet foi pioneira ao
introduzir o conceito de circularidade na interação entre seres humanos. Ela
explicava que no comportamento circular existem, em uma discussão aberta, a
confrontação e o jogo livre na exposição de ideias. Há a integração das
diferenças, ao invés de haver dominação de uma ideia sobre as outras ou a
concessão das partes na busca por uma ideia comum a todos. Ou seja, surgindo um
conflito em um grupo, as soluções devem ser encontradas somente com a
participação de todas as partes, não por meio de uma “psicologia de adaptação”,
mas de uma “psicologia de invenção”.
No entanto, a dinâmica
circular, que pode sugerir um círculo virtuoso e positivo, que leva à criatividade
e ao desenvolvimento, também pode criar um círculo vicioso e negativo, levando
à esterilidade e à desagregação.
No momento em que um membro
do grupo toma posição frente aos demais, os outros também tomarão uma posição
em relação a ele. A hipótese do círculo de desenvolvimento que segue a espiral
positiva prevê que o comportamento socialmente integrador em uma pessoa tende a
induzir um comportamento análogo nos outros. Instaura-se, assim, um clima
favorável que, de acordo com Domenico De Masi, “multiplica e enriquece a troca
de informações em todos os níveis, elimina as ameaças e os medos, potencializa
a coragem de tentar e errar, atrai do exterior os melhores cérebros, protege os
participantes com personalidades mais fracas e os ajuda a permanecer no grupo,
determina a sintonia e a ‘extensão de onda’ comum, graças às quais é mais fácil
colher as mais sutis intuições, que frequentemente se revelam resolutivas”.
Mary Parker Follet
desenvolveu conceitos que foram redescobertos por estudiosos da Administração
anos mais tarde. Apesar disso, poucos ouviram falar da pesquisadora pois, como
afirmou Peter Drucker, nos anos 1930 e 1940, suas ideias, conceitos e preceitos
desenvolvidos foram rejeitados. Seus ensinamentos eram incompreensíveis naquela
realidade, em que a sociedade estava dominada por uma crença profunda na luta
de classes. Patrões e empregados em eterna posição antagônica.
Follet foi uma visionária
que desenvolveu um pensamento extremamente atual, que é base para o
gerenciamento colocado em prática no dia-a-dia das empresas. Ela faleceu em
1933 sem ter o devido reconhecimento, mas suas pesquisas e constatações foram
revolucionárias, fundamentais e até hoje fazem história na Administração.
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