A fluminense Marise Barroso
quebrou uma tradição de quase duas décadas ao assumir a presidência da
fabricante de painéis de madeira Masisa em março de 2012. Nenhuma outra mulher
havia ocupado uma diretoria na subsidiária, criada em 1995. Desde então
, muita
coisa mudou.
Hoje, além de quatro homens,
quatro mulheres se reportam diretamente a Marise — todas contratadas
recentemente no mercado. Mara Pezzotti assumiu a diretoria de marketing e
inovação, Patrícia Pires, a de capital humano, Angela Bastos, a diretoria
jurídica, e Yazmin Trejos, a recém-criada área de comunicação e
sustentabilidade.
A mudança se deu num ano
especialmente turbulento para a companhia. Mas, mesmo após um acidente que
paralisou uma de suas duas fábricas no Brasil por três meses, as receitas da
Masisa Brasil cresceram 4,5% em 2012 e chegaram a 500 milhões de reais.
A previsão é crescer 11% em
2013. “Ninguém estipulou cotas”, afirma Marise. “Apenas consideramos mulheres
para os cargos que ficaram vagos e as candidatas emergiram naturalmente.”
Ainda há uma clara
predominância masculina no topo das companhias brasileiras. As mulheres
representam apenas 14% dos 4 324 executivos das 233 empresas consideradas
no levantamento realizado neste ano pela consultoria Hay Group. Quando se olha
o número de executivos milionários, a disparidade também é nítida.
A remuneração superior
a 1 milhão de reais é uma realidade para 17% das executivas da amostra,
enquanto 32% dos homens já alcançaram esse patamar. O equilíbrio na
remuneração, no entanto, dá sinais de avanço. Em 2008, as mulheres em postos de
diretoria tinham uma remuneração total 26% menor do que a dos homens.
Hoje, cinco anos mais tarde,
a desvantagem caiu para 17%. Esse é o retrato da média de todos os
participantes da pesquisa. Num recorte mais fechado, no entanto, quando se
comparam apenas homens e mulheres que dividem posições similares nas mesmas
empresas, observa-se que a diferença é mínima.
Nesses casos, as mulheres
ganham 6% menos do que seus pares em cargos de diretoria nas empresas de
capital nacional. Entre as multinacionais, essa diferença cai para 4%.
“Para efeitos estatísticos,
praticamente não há diferença de remuneração entre gêneros quando os executivos
estão em posições similares na mesma empresa”, diz Leonardo Salgado, diretor da
Hay Group. “A desvantagem das mulheres no universo total só é maior porque
ainda temos executivos homens mais velhos e com mais tempo de carreira.”
De acordo com o levantamento
da consultoria, as mulheres começam a ocupar lugar de destaque em setores que
até pouco tempo atrás eram absolutamente masculinos. Isso ocorre sobretudo
naqueles que aceleraram a expansão e, portanto, a contratação de profissionais.
Em 2008, apenas 7% das mulheres da base de dados da pesquisa estavam no setor
de tecnologia.
Em 2013, a proporção
aumentou para 12%. Um exemplo dessa ascensão é a trajetória de Monica Herrero,
presidente da empresa de tecnologia da informação Stefanini para o
mercado brasileiro desde abril de 2012. Naquele momento, com a expansão
internacional da empresa, que atua em 30 países, o fundador Marco Stefanini
decidiu se tornar o principal executivo global e criou a posição regional.
Formada em matemática,
Mônica ingressou na companhia em 1992 e foi preparada por cinco anos para
assumir o cargo. Nesse período, ocupou a posição de vice-presidente no Brasil,
como braço direito de Stefanini. Hoje, Mônica não é uma exceção dentro da
empresa. Há seis homens e seis mulheres em sua diretoria, segundo ela, com
remuneração compatível.
“Não há diferenças por
gênero aqui”, afirma. “Tanto que duas diretoras foram promovidas enquanto
estavam em licença-maternidade.” Num segmento em que existe a restrição de mão
de obra qualificada, a diversidade tem sido natural.
Com um crescimento
acelerado, as vendas chegaram a 1,9 bilhão de reais em 2012 — 50% mais em
relação ao ano anterior. A previsão para 2013 é crescer outros 15% e
atingir 2,2 bilhões de reais — sendo que as operações no Brasil, comandadas por
Mônica, respondem por 65% desse total.
As barreiras também começam
a ruir com a crescente participação das mulheres em certas áreas de atuação
tradicionalmente dominadas pelos homens. A maioria das executivas ainda ocupa a
diretoria de recursos humanos. A concentração, porém, diminuiu. Em 2008, 21%
das mulheres estavam nessa posição. Em 2013, 14% delas ocupavam a função.
Fonte: revista Exame
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